terça-feira, 28 de abril de 2009

POLÊMICAS DE POLEMISTAS QUE NÃO SÃO POLÊMICOS, ou o estilo mainardi de ser contra.

Acredito que todos que tenham minha idade tenham assistido, lido, visto ou ouviram falar de um livro/peça de teatro/programa de televisão que ficou muito famoso e que levou uma atriz de filmes adolescentes estrelados pela Angélica (aquela que ia de taxi) e o filho punk da Marta, o Supla, ao estrelato e lista de mais vendidos por vários anos com suas nóias e problemas de uma filhinha da classe média-alta sem maiores preocupações que namorar, fazer um curso universitário da moda (e de elite) e curtir sua juventude sem problemas maiores ou preocupações de verdade. Vocês sabem de quem estou falando? Se você tem mais de 25, você sabe que estou falando de Maria Mariana e de seu sucesso de vendas Confissões de Adolescente.
Eu nunca lí o livro nem ví a peça, só assistí a alguns capítulos na televisão e achei meio bobinho, não gostava da Maria Mariana, ela era sem graça e certinha, muito caricata (como as outras personagens) e como eu não venho da classe-média de um grande centro, achava tudo aquilo muito longe da minha realidade, não entendia o que era condomíno, mensalidade da escola, roupa de marca (lembram, pakalolo e new balance?) etc, achava um saco.
Pois é, não sei se vocês perceberam, mas a adolescente sumiu por muito tempo, perceberam? mas, para horror dos ecologistas, ela voltou e voltou com livro novo, agora muito mais adulto e criativo: Confissões de mãe.
Não vou ler e sei que não gostei, mas o lançamento já está sendo estrondoso com entrevistas nos jornais de maior circulação do país, comentários na tv etc. Bom, o livro já foi taxado de polêmico por causa de algumas declarações que a adolescente de 36 anos e quatro filhos fez sobre as mulheres, o feminismo, a feminilidade e a maternidade, como que a mulher só pode ser feliz com a maternidade em um casamento tradicional e que o parto normal é para as que merecem (meu deus! mulheres eleitas, tocadas, especiais). Até aí, tudo bem, ela deve ser meio retardada mesmo, mas, revistas e jornais de circulação nacional que se dizem neutros dizerem que essas opiniões são polêmicas já é um pouco de mais para minha parca inteligência.
Gente, minha avó é polêmica e nem sabe! sério, ela pensa as mesmas coisas! (exceto a questão do parto normal). Minha avó pensar assim é bem compreensível, ela tem 85 aninhos, 14 filhos e nasceu muito tempo antes da década de 60, do advento da pílula, divórcio e outras facilidades do mundo moderno.
Maria Mariana não é polêmica, ela retrógrada e conservadora como a grande maioria da classe-média brasileira e ser tida como tal me incomoda. Pergunto: por que todas as pessoas que falam o que a maioria pensa são taxadas de polêmicas e todas as que vão contra o pensamento da maioria é antiquada e ideológica com tendências autoritárias, stalinistas e assumem uma posição antidemicrática que vai de encontro com as liberdades pessoais conquistadas pela atual configuração da sociedade?
Meus queridos, Diogo Mainardi, Jô Soares, Lya Luft, Paulo Briguet (desconsiderem ele, ele é muito periférico e caipira) e outros tantos "polemistas" simplesmente não polemizam, eles repetem em seus discursos as mesmas posições conservadoras, antiquadas, retrógradas, machistas e preconceituosas da classe-média brasiliera que devora seus artigos, livros e programas tidos como ultra inteleigentes por ela, alias, já diz um ditado bem velhinho, mais que a minha avó, que para parecer inteligente, basta concordar com tudo o que é dito e é exatamente isso que nossos intelectuais polemistas de direta fazem: ELES SIMPLESMENTE CONCORDAM COM O PENSAMENTO DA MAIORIA.
Para a nossa tão liberal, libertária e democrática classe-média ser do contra é ir contra quem é do contra, ou seja, concordar com ela. Legalizar o aborto é polêmico, ser a favor da legalização é pecado, mas ir contra quem é a favor é ser consciente, é um ato de heroísmo pela vida; cotas para negros nas universidades públicas é uma medida antidemocrática de um governo arbitrário que está privilegiando uma parcela da populaçao em detrimento de outra, ser contra as cotas é uma questão de democracia, ser a favor é ideológico (não sei porque, mas esta palavra é muito temida pela c.m. como se tudo o que é ideológico fosse de esquerda) e preconceituoso, ser contra quem é a favor, é bravura.
E é assim, o discurso conservador da direita passa por revolucionário e o pensamento revolucionário de esquerda é chamado de antiquado, violento, ultrapassado, fora de moda, ideológico, antidemocrático e autoritário. O dia em que a classe-média descobrir que ser loira e magra e que a revista veja e a novela das oito, além do cinema do shopping e a propaganda de carro é pura ideologia, os alicerces do mundo perfeito no qual eles vivem ruirão.

Maria Mariana, você já está ficando velhinha para escrever bobagem, a vida é coisa séria, viu menina. Siga o conselho do Nelson Rodrigues, cresça!













sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

A História de Horror da Minha Vizinha

No blog da Lola (tudo bem, já faz um tempinho que ela fez o post, mas eu lembrei desta história e resolvi contar), para os que ficarem com preguiça, o post fala de uma moça que foi "servida" num churrasco e, a partir desta história, outras leitoras contaram suas histórias de horror. Engraçado, história de horror para homens é ser sequestrado e ter o carro roubado, poucos homens se preocupam se lhes acontecerá algo além de morrer. Mulheres temem serem sequestradas, roubadas e assassinadas, mas além de tudo isso elas têm que temer serem estupradas. É isso aí, meus rapazes, somos muito priviligiados no mundo.
Eu acho a palavra estupro muito feia, mas, a coisa que ela designa é muito mais horrorosa, então, sou contra o uso de expressões atenuantes, como violência sexual, abuso etc, parece que ao trocar a palavra tenta-se diminuir o ato que ela nomeia, fazer com que estupro pareça mais suave, e com isso amenizar o horror disso. Bom, não é para falar de eufemismos que estou escrevendo, mas para contar a história da minha vizinha. Ela é velhinha, bem senhorinha, cabelinho branco, roupinha de velhinha, sempre sentada na frente de sua casa (em cidades pequenas do interior é muito comum as pessoas ficarem sentadas em frente de casa), quem a vê nem imagina seu passado. Minha mãe e minha avó me contaram a história daquela velhinha. Ei-la:
Como toda a mulher de sua época, Dona M. teve que se casar com o homem que se engraçou por ela e recebeu o consentimento de seu pai para fazer dela sua esposa. Casou sem escolher o marido, sem conhecer o homem com quem teria que viver o resto da vida, aliás, ela sempre foi escolhida, nunca escolheu. Não sei como foi o início do casamento, se foi bom, mas sei que eles tiveram duas filhas. Minha avó os conheceu quando eles se mudaram para a fazenda vizinha à que ela morava. Dona M. era uma mulher boa e seu marido era ciumento e violento, muito ruim para ela e para as filhas. Ele as deixava trancadas, batia na esposa, bebia e tudo o mais que um típico "homem" faz com suas famílias. Elas sabia que poderia morrer qualquer dia nas mãos de seu marido, o medo a acompanhava o dia inteiro, todos os dias. Um dia ela encontrou um vidro de veneno no paletó do marido e teve certeza de que ele a mataria. Eles cultivavam uma horta que ficava um pouco afastada da sua casa e um dia ele a chamou para ir até lá ver as abóboras que ele havia plantado, Dona M. deu uma desculpa para não ir, pois sabia que ele a mataria lá, mas ele deixou bem claro que no outro dia, quando ele chegasse do trabalho ela iria com ele ver as abóboras. Nesta noite Dona M. escondeu o frasco de veneno e perguntou às filhas quem elas preferiam, o pai ou ela. As filhas responderam que preferiam a mãe. Depois da resposta das filhas Dona M. colocou o veneno na sopa do marido. Se as filhas tivessem escolhido o pai, ela teria tomado o veneno.
Que triste ter uma vida destas. Nunca ter escolhido nada, nem nome, nem marido nem se vive ou não, a vida dela estava nas mãos do marido e ela a colocou nas mãos das filhas. Para salvar a sua vida seu marido teve que morrer, bem feito, mereceu tomar do próprio veneno, mas poderia ser tão diferente.